Bioeconomia: Desafios para o desenvolvimento rural sustentável.

Bioeconomia: Desafios para o Desenvolvimento Rural Sustentável.

Anne Sena Instituto Diversa/Presidente da UNISOL BAHIA

Resumo
A estruturação de ações com foco nas tecnologias sociais, junto aos empreendimentos econômicos solidários, perpassa pela adequação de métodos e instrumentos de acessibilidade e eficácia, onde a prática social apreendida seja apropriada pelo conjunto dos entes sociais, na aplicabilidade do dia-a-dia e na capilaridade do saber popular. Até então, percebe-se que essas práticas usadas como descritas hoje, pouco se revelam como a dinâmica integrada dessa ação.
Nesse sentido, a preocupação se dá, não na mera conceituação das nomenclaturas cientificas e acadêmica de instrumentos sustentáveis, mas sim nos métodos de incidência dessas plataformas a serviço das pessoas “com as pessoas”. Fato de que nada se constrói e fortalece se não for parte do cotidiano, construído com bases elementares das normativas populares, onde o saber seja socializado, vivido e replicado.
A Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários, que atua há16 anos em todo território brasileiro, e que tem a Agricultura Familiar como um dos seus maiores setoriais; vem ao longo desse tempo buscando essas convergências como agente transformador de economias limpas e sustentáveis – tecnologia de informação, nanotecnologia entre outras que garantam a produção eficiente a favor da gestão democrática, fruto do reconhecimento do trabalho de cada ator social enquanto agentes de transformação e das suas vidas.
A Bioeconomia, terminologia até então não muito presente no nosso cotidiano, enquanto empreendimentos de economia solidária, vem demonstrando diversos elementos que integram a ação desse movimento na perspectiva de que sociedade queremos, como instrumento sociopolítico para produzir saúde, crescimento e desenvolvimento sustentável.

Bioeconomia e Economia Solidária, tecendo paradigmas
Conceituando, a Bioeconomia é uma economia sustentável, que reúne todos os setores da economia que utilizam recursos biológicos (seres vivos). Esse mercado destina-se a oferecer soluções coerentes, eficazes e concretas para os grandes desafios sociais, como a crise econômica, as mudanças climáticas, substituição de recursos fósseis, segurança alimentar e saúde da população.
Se pensarmos no significado das terminologias usadas, chegamos a duas definições claras, BIO “vida”, um termo de origem grega utilizado em palavras que tenham alguma relação com o ser vivo; ECONOMIA “cuidar da casa”, aponta para a necessidade de buscarmos modelos focados no desenvolvimento sustentável.
Assim, podemos afirmar que a Bioeconomia consiste na construção de processos físicos, científicos e tecnológicos que assegurem um modelo de desenvolvimento sustentável respeitando as pessoas – suas relações, histórias, caminhos – objetivando a eficiência, porém sem perder de vista as práticas cotidianas e o protagonismo da vida enquanto atores sociopolíticos.
Contribuindo com a análise, o recorte acerca da Economia Solidaria apresenta-se como um modelo de desenvolvimento, onde a gestão coletiva do trabalho representa a garantia de práticas emancipadoras através da ressignificação da relação- Capital X Trabalho, que sempre foi vista nos moldes atuais de concentração de capital, como estrutura de precarização e invisibilidade da classe trabalhadora.
Enquanto militantes do movimento de Economia Solidaria, trazemos o debate dos formatos produtivos como eixos estruturantes na integração dos aspectos políticos, sociais, culturais, ambientais e econômicos. Com isso, não dá para pensar em projeto de desenvolvimento sustentável sem garantir uma gestão racional e justa do uso dos recursos naturais e tecnológicos.
Assim, a Tecnologia não pode ser vista como instrumento de substituição das práticas de regulamentação das relações sociais e sim, das dinâmicas de facilitação e consolidação de produções mais equilibradas, sustentáveis com vista a sociedade do bem viver. Essa formatação possibilita a tomada de consciência, tanto da comunidade, sobre os aspectos relacionados à sua realidade socioeconômica, ambiental, política e cultural, bem como promove a participação de diferentes grupos comunitários nos espaços de elaboração de políticas públicas; proporcionando uma base para a planificação de atividades educativas, organizativas e mobilizadoras e o maior poder de decisão ao empreendimento/comunidade; contribuindo para um desenvolvimento local sustentável.

Agricultura Familiar e Bioeconomia, rumo ao presente.
Os empreendimentos econômicos solidários do setorial da agricultura familiar sempre conviveram com problemas estruturais que demonstram a estatização e o enfraquecimento de políticas assertivas para esse segmento; dentre eles podemos apresentar o Esgotamento dos Recursos Naturais, a carência de inovação Ciência e Tecnologia, as Mudanças Climáticas, a Segurança Alimentar e a Intermediação da produção com precarização.
Esses fatores aliados, ao processo pandêmico que estamos vivendo, aos modelos organizacionais e a revolução 4.0, enquanto estruturação principalmente nas bases da agricultura familiar, coloca-se como um elemento crucial na retomada de práticas produtivas que aliem as pessoas a tecnologias emancipadoras, eficientes e sociais a serviço do crescimento e desenvolvimento.
Mundialmente, é de conhecimento da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, que a bioeconomia pode contribuir para o enfrentamento de alguns problemas globais urgentes, como a fome, a pobreza e as mudanças climáticas. Além disso, a Bioeconomia contribui sobremaneira para atingirmos o cumprimento das metas dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), como a erradicação da pobreza, a agricultura sustentável, trabalho decente e desenvolvimento econômico, cidades e comunidades sustentáveis , consumo e produção responsáveis e outros.
Nesse sentido, a Bioeconomia construída acerca de instrumentos de integração dessas práticas com garantia da autonomia, consiste em um elemento fundamental de ações mais sistêmicas e amplas. Onde a combinação da Agricultura familiar e Bioeconomia na lógica distributiva do trabalho enquanto instrumento de consolidação de uma sociedade mais justa e igualitária, consequentemente garantirá o fortalecimento de práticas sustentáveis com respeito à terra e à vida em toda sua diversidade.
É importante pensar nesses instrumentos a partir da estruturação de medidas que respeite todos esses fatores e que conduzam essas práticas socioprodutivas e solidarias à adoção de padrões de produção , consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da terra , os direitos humanos e o bem estar comunitário. Contudo, a Bioeconomia representa essa ferramenta de práticas eficientes de desenvolvimento da produção , a segurança alimentar, preços justos; mais sobretudo de respeito à vida.

Compartilhe nas redes